Onde Vamos Parar?
Quem me conhece, sabe que é raro falar de política...Só quando vejo que estou a falar com alguém que é capaz de falar e perceber os outros pontos de vista, sem impor as suas "cores" partidárias...
Nunca tive um partido, pois não me revejo nos ideais de nenhum deles...vejo algumas características em alguns partidos que gosto, mas não há nenhum que me faça acreditar incondicionalmente, como vejo muitas pessoas a fazê-lo.
Isto porque para mim, é raro ver um político que não tenha interesses pessoais, e que não pareça (se não o for) corrupto. Pode parecer extremista, mas não o sou. Sei ver quando um político (mesmo que o ache corrupto) faz alguma coisa certa, mesmo que já tenha feito 30 erradas...
E hoje decidi falar indirectamente de política, devido à nova regra de despedimento que querem implementar em Portugal...
Tenho lido algumas opiniões de portugueses frustrados com o país e revoltados com isto, e consigo perceber quase todos os lados, mas tenho a minha própria opinião, esteja ela certa ou errada...
Primeiro, acho que os políticos mudam mas continuam a cometer os mesmos erros...Neste momento, este governo (que a meu ver só lá está porque as pessoas já estavam fartas do Engº Sócrates) está a fazer o mesmo que o anterior...a mentir...todos sabemos que todas estas medidas foram previstas com o acordo da Troika...Contudo, porque é que os políticos mentem sobre essas políticas? Porque é que Passos Coelho disse que não iria haver cortes no Subsídio de Natal (p. ex.) e a seguir "toma lá Zé Povinho"?
Resposta fácil...Porque é assim a nossa sociedade...Preferimos mentir para manter as aparências, e só pedimos ajuda e assumimos os erros quando já não há volta a dar...Porque é que medidas de poupança e cortes na despesa pública não foram feitas de uma forma gradual, antes disto tudo?
A meu ver, esta nova regra das indemnizações (cuja ideia é acabar com elas), consegue ter os seus lados positivos, se bem aplicada...(e com isto acabei de criar 7 ou 8 milhões de inimigos )
Eu explico...um trabalhador, que trabalhe há dez anos na mesma empresa, que entra mais cedo todos os dias (sem receber mais um tusto), que sai mais tarde (idem idem), e que recebe 600€ por mês...ou seja, é explorado mas não deixa o seu profissionalismo...(eu sei que é raro mas existe)..ora de um dia para o outro o chefe deste trabalhador decide que o quer mandar embora porque...sim...Ora pelas minhas contas este senhor irá receber 6000€ para se ir embora...já com alguma idade, não vai arranjar trabalho...e acham que vão ser estes 6000€ que o vão salvar???
Quem deve ficar chateado com isto, são aqueles que iriam receber balúrdios com uma indemnização...e agora vão receber menos...é claro que 6000€ é melhor que nada...não discordo...mas não vai alimentar por muito tempo o trabalhador...
Contudo, imaginem um jovem que entra na empresa, que dá tudo por tudo para conseguir estabilidade laboral, trabalha bastante...e ao fim do no máximo 18 meses vai embora, por muito bom trabalhador que seja, enquanto ficam lá pessoas nos quadros que mal tiveram a efectividade há alguns anos (quando as vacas eram gordas, e ninguém aproveitou para as manter gordas em vez de as emagrecer) acomodaram-se e não fazem nada, e que o patrão não o manda embora, porque lhe tem que pagar uma choruda indemnização...Eu vivi isso na pele, quando trabalhei como carteiro...Havia lá muitas pessoas que não davam nem 30% do rendimento que podiam porque viam que estavam safos...E vi muitos bons trabalhadores a entrarem e a sairem porque os CTT não colocavam ninguém nos quadros devido a esses excedentes que não saíam de lá nem por nada...
Penso que temos que ver os dois lados antes de criticar só por criticar...Agora, espero que estas atitudes sejam não só no privado como no público e que seja igual para todos...E o certo era ser como "Robin dos Bosques"...Tirar a quem tem mais, e não a quem tem menos...Não podemos dar a mesma medida sem olhar para os diversos patamares da sociedade...Não podemos tirar tudo a quem não tem nada, e quem tem muito continuar com muito...
Contudo sei que esta minha visão é utópica, mas penso que seria a única maneira de não nos tornarmos noutra Grécia, com motins e violência todos os dias...Penso que todos temos que ajudar, aí acho que ninguém deve ter dúvidas...mas para isso há que haver transparência e honestidade...Não podemos pedir às pessoas que abdiquem de todos os direitos e não mentir-lhes sobre tudo. Passos Coelho não pode criticar Sócrates por ter mentido sobre a realidade financeira do país para depois dizer que ninguém vai cortar no subsídio de Natal, para a seguir cortar...
E temos todos que fazer uma introspecção, para vermos se realmente também estamos a fazer tudo por nós próprios...isto porque vejo que, mesmo com a crise, os festivais de verão continuam esgotados, concertos de Bon Jovi e afins o mesmo, os destinos de férias continuam a ser os mesmos...Não se pode pedir que deixem de viver, contudo, essas pessoas depois não podem vir criticar só por criticar...um dos males da nossa sociedade é que sempre vivemos acima das nossas possibilidades, créditos para isto, créditos para aquilo, comprar o carro xpto sem ter possibilidades e afins...Em vez de pouparmos tínhamos que ter o que o vizinho do lado tinha...(atenção que escrevo de um modo geral) E o Estado é um reflexo dessa sociedade...gasta mais do que pode nos ordenados, nos submarinos, nos carros dos representantes desse mesmo Estado...
Eu sei que é complicado mudar a mentalidade de um povo de um dia para o outro...sei que corruptos, ladrões e calões irão sempre existir...sei também que iremos enfrentar momentos muito mas mesmo muito complicados...Resta-nos lutar (não literalmente) para não sermos enganados, mas com consciência e sem entrar no exagero de criticar por tudo e por nada...Mostremos que somos um grande povo, que consegue tudo a que se propõe...Sempre o fizemos e sempre o faremos...
Infelizmente, mesmo com este pensamento, estou a ver muitos portugueses a cantarem esta música...
Saudações Eestianas